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VÓ MARIA

87 rugas

2020

Uma homenagem à pessoa a qual considero uma segunda mãe e a quem chamo de Avó.

Gumiei (Viseu), 1933
 

Nasceu este rebento que, até hoje, muitos consideram especial, e para mim não é exceção. Cresceu bonita e bela, cheia de força, nunca se deixando murchar. Seu nome é Maria dos Anjos Martins, mais conhecida por todo de “Vó Maria”, a minha avó.

Nada a assusta. Todos os dias, as suas caminhadas árduas lhe fazem chegar onde quer. Me diz ela que faz bem distrair a cabeça, que não posso me prender sempre ao que me é confortável. Me leva consigo e mostra-me os seus caminhos diários, o mundo lá fora, a incrível vista que temos perto de nossa casa.

Acredita que Deus é o único que não lhe abandona, custa-me dizer mas por vezes é verdade. Ensinou-me como falar com ele. Deitadas na cama, antes de dormir, rezávamos juntas, dizia-me para O agradecer pelo que tínhamos na mesa, o que muitos não conseguiam ter, e por fim, pedíamos sempre por um mundo melhor.

Sua vida é como uma flor com espinhos, e que cada um deles foi um obstáculo para os quais teve que cuidadosamente escolher onde colocar as suas mãos. Não deixa de ser uma flor bonita, pois continua a florescer e encantar a vida dos que a rodeiam.

Lembro-me como se fosse ontem as tostas que me fazia ao chegar da escola. Sentávamos uma do lado da outra, ela com seu café e sempre no lugar que pertecia ao meu avô, e eu com a tosta quente que me fizera.

Mostrava-me o que plantava, as diversas flores de diferentes cores, gostava que eu as visse. Era a sua maior paixão. Plantava-as para que eu e o meu irmão pudéssemos dar de presente à nossa mãe. Certificava-se também que as flores que a minha mãe e a minha tia lhe davam seriam plantadas com todo o cuidado para continuarem a crescer.

Do seu lado tem sempre os seus pequenos companheiros que nunca lhe deixam só. Não o admite, pois é teimosa, mas sem eles a sua vida não seria a mesma. Cuida deles, fala com eles, e os mesmo a seguem por todo o lado, choram quando a vêem partir e se agitam quando a vêem chegar.

Olha ao seu redor e aprecia tudo o que vem fazendo por décadas. Acredito que se orgulhe daquilo que vê, do esforço, dedicação e carinho que colocou em cada semente e rebento. Lembro-me de passar tardes em árvores com o meu irmão, enquanto a observávamos lá de cima a trabalhar.

Em toda a sua vida seguiu os ensinamentos do meu avô e nunca nada lhe fez mais feliz do que continuar a semear cada grão de feijão, os legumes e vegetais. Nos ensinou, a mim e ao meu irmão, tudo que sabia de agricultura. Subíamos os três em árvores de frutos para degustar o quão bom é a fruta biológica.

Depois de um dia atarefado, ao cair da tarde, finalmente senta-se de cansaço. Pensa nos antepassados, na falta que o seu marido tanto faz para ajudar a manter uma horta rica e alegre, que hoje acabou por se desleixar.

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